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Para produzir café, são necessários 30 meses de intenso trabalho de preparo de solo, correção de solo, plantio, tratos culturais, fitossanitários e nutricionais, dentre outros, até que seja possível colher a primeira safra. Nestes 30 meses, são gastos em torno de R$ 45.000,00 por hectare. Porém, se houver problema de falta de água numa fase fenológica crítica, como floração e granação, a safra pendente pode ser muito prejudicada. Aí, todo o investimento fica comprometido. Dependendo do ano e do déficit hídrico, o cafeicultor tem prejuízos tão altos que compromete as próximas safras, às vezes promovendo o abandono do cafeicultor da atividade. A alternativa mais viável para reduzir estes riscos é a irrigação, pois possibilita que a maior causa de queda de produtividade do café seja abolida, conforme Figura 1. Nesta figura, podemos ver que as principais causas de quebra de produtividade na lavoura cafeeira são decorrentes da falta de chuva ou irrigação (56%) ou do excesso hídrico (17%), o que explica o expressivo aumento nas áreas irrigadas de café no Brasil. O Brasil já irriga mais de 450.000 hectares de todo o seu parque cafeeiro, o que representa quase 22% da cafeicultura nacional. Já é a terceira cultura mais irrigada no Brasil, ficando abaixo apenas do arroz e da cana-de-açúcar. O que chama a atenção é que esta fatia irrigada responde por mais de um terço da produção nacional, mostrando a grande competitividade desta atividade no agronegócio brasileiro. Esta percentagem de área irrigada é muito superior à média brasileira, mostrando que o café responde bem à esta tecnologia, que só tem aumentado nos últimos anos. O Brasil irriga apenas 8% de toda a sua área cultivada (com culturas anuais e perenes), algo em torno de 8 milhões de hectares, mas a área irrigada representa 41% do valor da produção. 

Figura 1 – Principais causas de quebra de produtividade na cafeicultura

Os cafezais irrigados estão mais concentrados nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Goiás e, em menor proporção, em Mato Grosso, Rondônia, São Paulo e Paraná. A irrigação tem sido utilizada mesmo nas regiões consideradas tradicionais para o cafeeiro, como o sul de Minas Gerais, Zona da Mata de Minas Gerais, Mogiana Paulista, Espírito Santo, com resultados excepcionais de produtividade. Trabalhos de pesquisa desenvolvidos nas regiões de Lavras e Viçosa, em Minas Gerais, consideradas aptas climaticamente ao cultivo do cafeeiro, sem a necessidade de irrigação, demonstram que o aumento de produtividade média com o uso da irrigação (médias de pelos menos três safras) tem sido de 50%, quando comparada com as lavouras de sequeiro. É importante salientar que, embora a irrigação seja viável nestas regiões, o benefício do uso desta tecnologia é mais evidente em regiões mais quentes, onde a temperatura média mensal dificilmente fica abaixo dos 19º C, como as novas fronteiras do café – Barreiras, Luiz Eduardo Magalhães e Cocos, na Bahia. Na Tabela 1, é possível verificar a divisão da cafeicultura brasileira em regiões, de acordo com a temperatura. As regiões podem ser classificadas em “frias”, “médias” e quentes. A irrigação tem proporcionado melhores resultados de produtividade nas regiões quentes, seguido pelas médias e, por último, nas frias. Vários experimentos têm sido conduzidos nas diferentes regiões cafeeiras, objetivando, principalmente, avaliar o efeito da irrigação na produtividade e qualidade do cafeeiro, sendo vários deles relacionados a estresse hídrico x produtividade/qualidade do café. Existem diferentes sistemas de irrigação que podem ser utilizados, sendo que a escolha do mais adequado depende de uma série de fatores, destacando-se o tipo de solo, a topografia, o tamanho da área, os fatores climáticos, os fatores relacionados ao manejo da cultura, o déficit hídrico, a capacidade de investimento do produtor e o custo do sistema de irrigação. Além disso, deve-se ter em mente também que é grande o volume de água exigido na irrigação e, por isso, a necessidade de otimizar a utilização deste recurso é um dos aspectos mais importantes que deverá, também, ser considerado no momento de decidir pelo método e pelo sistema de irrigação a ser utilizado.

Tabela 1 – Classificação das regiões cafeeiras do Brasil de acordo com as temperaturas médias mensais

Em geral, a irrigação do cafeeiro é feita por dois métodos: aspersão e irrigação localizada. Os sistemas de aspersão utilizados na irrigação desta cultura são os seguintes: aspersão convencional móvel (com aspersores pequenos, médios e canhões) ou fixa (que inclui o sistema de aspersão em malha), autopropelido e pivô central. Para a irrigação localizada, o sistema mais utilizado é o gotejamento, havendo, porém, regiões que utilizam a microaspersão, na forma de emissores chamados microjets. Existem também os sistemas modificados, como os tubos perfurados a laser (popularmente conhecidos como tripas), ainda com grande utilização no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, em Minas Gerais.

Investimento na irrigação

Em função de aspectos relacionados ao consumo de energia, exigência de mão-de-obra e outros aspectos operacionais, os sistemas mais viáveis de irrigação por aspersão têm sido o convencional (principalmente do tipo malha) e o pivô central. Já com relação à irrigação localizada, os sistemas mais utilizados são o gotejamento, por suas características técnicas que permitem uma irrigação com grande precisão, economia de água e energia, e as fitas de polietileno (sistema também conhecido como “tripa”), principalmente pelo menor custo de implantação. Na Figura 2, estão dispostos custos de implantação atualizados dos principais sistemas de irrigação para o cafeeiro. Pode-se observar que, para irrigar a lavoura, o produtor tem opções que variam de U$ 857,00 a 2.715,00/ha.

Figura 2 – Custos de instalação dos principais sistemas de irrigação do cafeeiro (Conversão abril de 2023 – U$ 1,00 = R$ 5,10) Na Tabela 2, consta uma comparação dos custos de produção e lucratividade em lavouras em produção de café, por ano, irrigadas e sem irrigação, média de 4 safras, na região do cerrado mineiro. O resultado econômico da lavoura irrigada é de quase R$ 35.000,00/ha, comparado com menos de R$ 23.000,00 na área de sequeiro. Estes resultados são mais expressivos em regiões médias e quentes, comparando-se com as regiões frias. Mas nas regiões frias, conforme já dito, a irrigação é uma excelente garantia de produtividade em anos com déficits hídricos em fases fenológicas cruciais ao cafeeiro. Tabela 2 – Comparação de custos de produção e lucratividade no cerrado mineiro, média de 4 biênios*

A composição dos custos nas lavouras irrigadas e de sequeiro é similar, com pequenas diferenças. Na Figura 3a e 3b, constam as percentagens dos custos em lavouras irrigadas.

Figura 3 – Composição dos custos de produção de lavouras irrigadas (a) e de sequeiro (b).

Até mesmo pelos resultados obtidos, há regiões onde a irrigação ocupa toda a área de café plantada, como Araguari – MG, no Triângulo Mineiro, como Barreiras, São Desidério e Cocos, na Bahia. Em outras regiões, as áreas irrigadas são menores, como Monte Carmelo (cerca de 70%) e Sul de Minas (menos de 10%). Porém, pelos resultados excepcionais obtidos nas últimas safras, o aumento da procura por sistemas de irrigação tem sido expressivo em todas as regiões cafeeiras do Brasil.

Referências
  • 1. FERNANDES, André Luís Teixeira; PARTELLI, F.L. ; BONOMO, R. ; GOLYNSKI, A. . A moderna cafeicultura dos cerrados brasileiros. Pesquisa Agropecuária Tropical (Online), v. 42, p. 231-240, 2012.
  • 2. COSTA, J. O. ; COELHO, Rubens Duarte ; Fraga Júnior, Eusímio F. ; BARROS, T. H. S. ; Fernandes, André L. T. . Canopy thermal response to water deficit of coffee plants under drip irrigation. IRRIGATION AND DRAINAGE, v. 1, p. 1-11, 2020.
  • 3. SANTINATO, Roberto ; FERNANDES, A. L. T. ; FERNANDES, D. R. . Irrigação na cultura do café. 2. ed. Uberaba: O Lutador, 2008. v. 1. 483p .
  • 4. SANTINATO, Roberto ; Fernandes, André Luís Teixeira . Cultivo do cafeeiro irrigado por gotejamento. 2. ed. Uberaba: André Luís Teixeira Fernandes, 2012. v. 1. 388p .

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