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Criado em 13/06/2023 (editado em 13/06/2023)
Os benefícios da irrigação em grãos vão muito além do incremento de produtividade. De maneira geral espera-se que a irrigação traga incremento de produtividade, porém, a aquisição desta tecnologia traz os diversos outros benefícios. O controle do fator climático “água” é fundamental para atividades agrícolas como, plantabilidade, garantia da correta data de plantio, da boa germinação e emergência para o correto estande de plantas, e ainda, melhoria na eficiência da ação de herbicidas e fertilizantes, eficiência esta que está diretamente ligada ao conteúdo de água no solo. Além destes benefícios, é importante citar ainda as possibilidades de utilização das práticas de fertirrigação e quimigação proporcionadas pelos sistemas de irrigação. Nosso objetivo aqui é trazer informações práticas de pesquisa, focando nos benefícios implementados com a utilização dos sistemas de irrigação, que vão muito além do simples incremento de produtividade. A abordagem deste capítulo se dará com exemplos de estudos de caso nas condições Centro-oeste do Brasil, principalmente relatando sobre áreas com sistema de produção soja-milho-algodão e ainda um pouco sobre integração lavoura pecuária.
As condições de umidade do solo para a realização do plantio/semeadura são essenciais para um bom início de safra. Quanto mais seco o solo está, maior a resistência para a realização da semeadura, menor o recobrimento das sementes e dependendo das características deste solo, ainda há a formação excessiva de torrões que prejudicam muito a boa germinação e por tanto, o estande de plantas. Assim a plantabilidade, ou seja, às boas condições de plantio dependem exclusivamente da umidade em que o solo está no momento da realização da operação.
Podemos destacar a região de Cerrado, em que o clima é tipicamente de invernos extremamente secos e com isso a safra é iniciada após cerca de 5 meses sem a ocorrência de chuvas. Ou seja, as condições físicas do solo não proporcionam uma boa semeadura/plantabilidade. Em muitos tipos de solo, torna-se praticamente impossível realizar semeadura antes que ocorra ao menos uma chuva que dê as mínimas condições de friabilidade do solo. Desta forma mesmo que o produtor invista em semeadoras/plantadoras de última geração, se não houver condições ideais de umidade do solo, assim também não haverá uma boa semeadura.
O produtor trabalha, investe e corre riscos dos mais diversos, e estes já começam no plantio! A simples mudança de programação da safra, já compromete a “janela” ideal de plantio. Nas regiões de Cerrado em função do regime de chuvas ser concentrado no verão, um pequeno atraso da safra de verão, pode inviabilizar a segunda safra e/ou a chamada safra de inverno, ou ainda, safrinha.
Em anos com boas distribuições de chuvas, o produtor do Cerrado Brasileiro, consegue realizar duas “safras boas”. Isso quando as chuvas se iniciam em setembro e se estendem de maneira bem distribuída até maio. Como são regiões com grande disponibilidade de energia solar, podemos chamá-las de duas safras cheias, e não safra e safrinha como em regiões mais ao Sul e Sudeste do Brasil.
Fato é que mesmo nessas regiões de grandes volumes de chuvas, a irregularidade do clima faz com que em alguns anos ocorra o risco de perda de semeadura e necessidade de replantio e, em outros anos a quebra de safra pode ocorrer devido a interrupção precoce do período de chuvas.
Assim, mais difícil ainda do que lidar com as perdas, é a falta de manutenção da programação da fazenda, pois os insumos já estão adquiridos e muitas vezes já existem contratos futuros para entrega da produção.
Não adianta ter a máquina que melhor distribui as sementes no solo, se a falta de umidade ligada a altas temperaturas do solo, poderão comprometer a germinação e emergência das plantas. Quando se fala em grãos, a garantia do estande ideal é importantíssima por vários fatores que vão muito além da produtividade. Falhas no plantio geram os mais diversos problemas, incluindo a competição com plantas daninhas.
Mesmo a chuva logo após a semeadura pode ser problema para alguns solos. Muitas áreas quando recebem chuvas fortes logo após o revolvimento do solo, seja ele no plantio convencional, seja o revolvimento apenas do sulco, criam um encrostamento da camada superficial do solo, que se torna uma barreira física à saída da plântula do interior do solo para a superfície.
A irrigação permite que o produtor realize com uma baixa lâmina de irrigação, o amolecimento dessa camada, e como isso as plântulas emergem com alto vigor.
É importante lembrar que a irrigação na fase inicial, deve ser de baixa lâmina e alta frequência. A redução da temperatura do solo é outro fator altamente relevante na fase de germinação/emergência.
Desta forma, a irrigação permite resolver facilmente problemas de início de safra como o encrostamento da camada superficial e manter temperaturas amenas na superfície do solo.
A disponibilização dos nutrientes é dada pela água no solo. Muito se investe em fertilizantes de altas tecnologias, porém, para que a planta consiga absorver as diversas fontes de nutrientes, estes precisam estar presentes na solução do solo.
Deste modo a irrigação não só melhora a eficiência e tempo de disponibilização dos nutrientes, como também possibilita a aplicação destes por meio da fertirrigação. Não ter a necessidade de entrar com máquinas na área para realizar adubações a lanço em cobertura e ainda, possibilitar a aplicação de 100% dos nutrientes via irrigação (dependendo é claro da situação nutritiva daquele solo), otimiza e muito as operações da fazenda, inclusive do plantio que pode ser realizado apenas com sementes, dispensando as perdas de tempo de reabastecimento de semeadoras/plantadoras com fertilizantes.
A manutenção da umidade do solo durante o ano proporciona uma melhor “vida do solo”. Regiões em que se têm longos períodos secos, prejudicam também o desenvolvimento e reprodução dos microrganismos do solo. Assim, em áreas irrigadas, por não haver longos períodos em que o solo fique sem receber água, existe uma atividade microbiológica muito mais intensa, contribuindo para a melhoria do solo.
As regiões irrigadas produzem plantas com maior porte vegetativo e portanto, maio massa vegetal. Esse material orgânico após decomposição pelos microrganismos do solo se tornará matéria orgânica incorporada ao solo, o que é a base para a fixação de carbono, contribuído para o estoque de carbono no solo.
Para que se tenha uma boa ação dos herbicidas, as plantas daninhas precisam estar fotossinteticamente ativas. Assim, muitas vezes o produtor necessita realizar a preparação de sua área antes do período chuvoso, com baixíssima eficiência de seus herbicidas. Já em áreas irrigadas isso não ocorre, pois sempre haverá umidade favorável às plantas, sejam elas de interesse agronômico ou as plantas invasoras que necessitarão absorver o produto para então teremos a ação do mesmo.
A quimigação é o termo utilizado para descrever a prática de aplicação de produtos químicos via equipamento de irrigação. A mais utilizada é a fertirrigação em que os fertilizantes solúveis são dissolvidos em tanque separado do sistema, e injetados na linha de irrigação nas doses certas para aquele setor a ser irrigado.
Porém, muitas são as possibilidades de se utilizar os sistemas de irrigação também para outros defensivos agrícolas, bastando ajustar o produto à tecnologia correta de aplicação.
Com o advento na tecnologia de aplicação dos adjuvantes, está cada vez mais abrangente o rol de defensivos que podem ser aplicados via emissores de irrigação. É claro que a escolha do emissor no sistema de irrigação será fundamental, pois, do ponto de vista da irrigação, gostas maiores representam menores perdas por evaporação, porém, do ponto de vista da tecnologia de aplicação exige-se um padrão mínimo de pulverização dessas gotas.
Ao se escolher um emissor, é preciso prever no projeto a possibilidade de aplicações de herbicidas, inseticidas e até mesmo fungicidas via irrigação para que não haja um escorrimento do produto. Assim, a quimigação de alta eficiência é possível desde que o projeto seja idealizado para esse tipo de manejo e não apenas pensando na aplicação de água.
Até aqui tratou-se muito da fase inicial dos cultivos e sua alta dependência da condição ideal de umidade do solo. Fato é que durante o ciclo dos cultivos, existem momentos em que a falta de umidade para a hidratação dos tecidos vegetais, são imprescindíveis.
Os produtores brasileiros estão cada vez mais atentos às novas tecnologias e não se poupam investimentos quando um novo manejo ou produto promete entregar 2, 5 ou até 10 sacas a mais por hectare (“mesmo que o custo para isso seja o próprio investimento”). Fato é que se faltar chuva, nenhum produto resolve, e o investimento muitas vezes é perdido.
Mesmo em regiões com altos índices pluviométricos, ainda sim podem ocorrer os veranicos. Veranico é o nome dado para intervalos secos em plena época de chuvosa, e por esse mesmo motivo, muito difícil de prevê-lo com exatidão. As chuvas são muito variáveis e a ocorrência de veranico pode ocorrer em uma determinada lavoura e na área vizinha não.
Com isso o produtor fica “refém” do clima. Isso afeta todo o planejamento, visto que a falta de chuva pode atrasar a semeadura e prejudicar a janela de plantio, ou ainda, intervalos sem chuva logo no início podem levar o produtor a ter que refazer o plantio, resultando em mais custos e atrasos.
Mas o maior problema é quando o veranico vem na floração e enchimento de grãos. De maneira geral, a cultura da soja tem bastante disponibilidade de chuvas, porém, pequenos intervalos sem chuva justamente no enchimento de grãos representam perdas de produtividade significativas.
É o caso principalmente de safras em que o regime de chuva é favorável no estádio vegetativo, aclimatando a cultura à condições de baixa insolação, temperaturas amenas e alta disponibilidade de água no solo. Nessas condições, caso ocorram veranicos, as plantas sentem muita variação em seus processos fisiológicos, levando-as a um estresse ao qual elas não estavam preparadas (aclimatadas). Quando isso ocorre e justamente na fase de enchimento de grãos há défice hídrico, as perdas de produtividade chegam a 60%. Isso porque em anos que a soja recebe muita chuva nas fases iniciais, é comum o sistema radicular não se aprofundar muito. Outro agravante é que com muita chuva temos muitas nuvens, logo, menos radiação solar atingindo as plantas.
Em praticamente todas as safras, falta chuva em algum momento do ciclo, e a magnitude dos prejuízos depende de qual estádio fenológico isso ocorre, devendo-se ainda considerar as características de cada cultivar, bem como o manejo adotado. O uso de cobertura com gramíneas como a braquiária por exemplo, ajuda, mas sozinho não resolve.
Com relação à adoção de práticas com “palhadas” na redução de perdas de água do solo, a matéria seca na superfície é apenas a “ponta do Iceberg”. Principalmente quando se fala em uso de braquiária, seus efeitos são muito maiores na reestruturação do perfil do solo, controle de compactação e adição de matéria orgânica, graças às características de seu sistema radicular, do que devido ao material orgânico sobre o solo propriamente dito.
Se por um lado a irrigação suplementar/complementar ocorre em pequenas proporções, quando chega-se ao período seco, em que a suplementação é praticamente toda realizada artificialmente pela irrigação, ou seja, ela ocorre de maneira plena durante a safra daquele período (safrinha, segunda safra, terceira safra, etc.)
Desta forma, torna-se óbvio que os custos da irrigação plena se tornarão muito mais altos do que às irrigações esporádicas.
A irrigação suplementar/complementar da “safra” garante a estabilidade de produção alcançando o teto produtivo das respectivas culturas, apenas como poucas irrigações nos momentos críticos. Porém, todo o lucro pode ser perdido se não feita a escolha correta da cultura do período seco. A tomada de decisão sobre qual cultura irrigar de maneira plena, vai lhe retornar um sistema de produção viável ou não!
Tudo o que o irrigante ganhou na “safra” ele pode perder na “safrinha” devido à alta necessidade de irrigação de uma cultura de pequeno retorno econômico.
Seria o sistema soja seguida de milho a melhor escolha? Ou seria mais interessante utilizar a soja e o milho como rotação de “safra verão” (Isso depende da região do país. Por tanto, vamos considerar aqui a safra de verão como sendo a safra em que chove mais, por representar as situações mais comuns das áreas agrícolas do Brasil.
No Centro-oeste Brasileiro temos a característica de muita disponibilidade de energia solar no ano todo, porém, falta de chuvas no inverno. Assim, ao possibilitarmos a aplicação de água para as plantas através da irrigação, já não se fala mais em 2,5 a 3,0 safras por ano mas sim, em agricultura contínua.
Isso porque, muitos zoneamentos de cultivos, são afetados fortemente pelos ciclos de chuva, mais do que pelos graus dia, ou datas de plantio em si. As probabilidades de início e fim de chuvas, afetam fortemente às análises de Zoneamento Agrícola. Então, torna-se claro, a necessidade de estudos para zoneamento agrícola para áreas irrigadas.
Se não há limitação de água, qual seria a melhor opção de data de plantio? Essa é a pergunta que nossa pesquisa precisa responder. “Agricultura irrigada é muito diferente de agricultura de sequeiro + água”.
O milho segunda safra, popularmente conhecido como milho safrinha no Brasil, é amplamente utilizado como cultura de inverno, não somente devido a necessidade de rotação de culturas, mas também por apresentar uma certa tolerância à déficeshídricos. Semeado entre os meses de fevereiro à março, geralmente após a colheita da soja, o milho safrinha chega ao seu estádio fenológico de enchimento de grãos em uma época que, na maioria das regiões brasileiras, a frequência de chuvas já diminuiu consideravelmente.
Uma estratégia utilizada pelos produtores rurais é buscar cultivares de soja de ciclos precoces, para poderem realizar a colheita mais cedo e assim, iniciarem a safrinha em janeiro/fevereiro, para aproveitar a estação chuvosa. Com isso o milho atinge sua maturação fisiológica ainda em período chuvoso nas principais regiões produtoras, pois, de maneira geral, os híbridos atingem esse estádio com 115 dias após emergência (DAE). Após esse período a planta não necessita mais de umidade no solo, levando ainda, os grãos, cerca de 25 dias para chegarem à umidade ideal de colheita.
Deve-se conhecer as características do híbrido que se está utilizando. Se interromper as irrigações muito cedo na maturação, perde-se em potencial produtivo. Por outro lado, se irrigar além do necessário prejudica a qualidade da espiga, e a qualidade final do grão.
Tecnicamente falando, a partir do momento em que o grão não tem mais ligação fisiológica com a planta, ele não recebe mais nem água nem nutrientes. A grande importância em monitorar o momento certo de interromper as irrigações na fase final, estão relacionadas à pragas e doenças de final de ciclo. A manutenção de umidade na fase de maturação deve ser realizada também do ponto de vista fitopatológico e não apenas da suplementação de água à planta, portanto, é importante conhecer o momento ideal de interromper as irrigações.
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