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Introdução

A agricultura irrigada é uma estratégia essencial para aumentar a produção global de alimentos, promovendo desenvolvimento sustentável, criação de empregos e renda estável no campo. Ao analisar o funcionamento da irrigação sob o olhar de eficiência de aplicação de água, que está diretamente relacionada com a quantidade de água armazenada na zona radicular e aquela retirada da fonte (rio, lago, reservatório, poço etc.), percebe-se que ela depende de três pilares interdependentes: projeto técnico, materiais de qualidade e instalação e manejo do sistema. A falha em qualquer um desses pilares pode comprometer a eficácia geral da irrigação e a rentabilidade do sistema irrigado.

Um projeto eficiente organiza todas as etapas de um empreendimento de maneira lógica e racional, evitando retrabalhos, prejuízos financeiros e atrasos. Na área de irrigação, também é essencial contar com um projeto bem elaborado para garantir a qualidade da irrigação e a longevidade do sistema. Um projeto de qualidade deve obrigatoriamente considerar as questões técnicas relacionadas ao solo, água, planta, clima, energia elétrica, topografia e outras particularidades da área a ser irrigada. Mas por que estes fatores? Porque são eles que afetam direta ou indiretamente a irrigação, assim, caso sejam negligenciados, impactarão a qualidade final do projeto. Por exemplo, se durante o dimensionamento de um projeto não se considerar as características do solo a ser irrigado, corre-se um grande risco de:

  1. Super ou subdimensionar a vazão do seu projeto, devido ao não conhecimento da capacidade de armazenamento de água solo;
  2. Escolher um aspersor que aplique água com uma intensidade maior do que o solo pode infiltrar, causando escoamento superficial;
  3. Definir erroneamente o turno de rega e, por consequência, o número de setores de irrigação e todo o layout, afetando a parte operacional posteriormente;
  4. Escolher a vazão errada do gotejador e como consequência, ter uma faixa molhada limitada (pequena), afetando o desenvolvimento da cultura.

Partindo de um projeto bem dimensionado, deve-se agora procurar utilizar materiais de boa qualidade e atentar-se aos detalhes durante a instalação. No que se refere a qualidade do material, o irrigante deve sempre priorizar aqueles de melhores custos-benefícios. Em relação à instalação, ela é uma etapa crucial, especialmente em grandes projetos com enterro de linhas (Figura 1), já que ajustes futuros devido à erros de instalação podem custar caro.

Figura 1. Linhas de irrigação enterradas a mais de 1 metro de profundidade. Fonte: KS Irrigações.

Com o projeto instalado, a próxima etapa é o manejo da irrigação. O manejo refere-se ao controle e aplicação adequada de água em um sistema de irrigação com o objetivo de atender às necessidades hídricas das plantas de forma eficiente. Por fim, realizar as avaliações periódicas e manutenções, de modo a garantir um correto funcionamento do sistema ao longo do tempo de uso. Nesta seção, focaremos no pilar projeto, concentrando-se na sua importância e mostrando o passo a passo sobre como desenvolvê-lo de maneira correta.

Etapas básicas de um projeto de irrigação

O início de um projeto se dá com a visita à área a ser irrigada, onde ocorre o levantamento dos dados de solo, clima, cultura, água, planialtimétricos e outras informações relevantes. Essa etapa inclui um bate papo com o produtor rural ou responsável pela propriedade. Um ponto importante nesta etapa, é importante ir preparado com um formulário anteprojeto, permitindo que você não esqueça de anotar informações essenciais. Além disso, é possível encontrar uma parte dessas informações em livros, boletins e artigos disponíveis na internet.

De posse das referidas informações, inicia-se a manipulação, utilizando alguma ferramenta digital de preferência (planilhas e/ou softwares), onde será desenvolvido o dimensionamento agronômico e posteriormente o hidráulico.  O dimensionamento agronômico, como o próprio nome sugere, engloba o levantamento e análise das informações “agronômicas” relacionadas às condições solo, clima, cultura, água e planialtimétricos, principalmente. Somente com estas informações é possível se ter um projeto de qualidade. Um projeto que não faça o uso de dados agronômicos será muito arriscado e trará muitas consequências negativas. A manipulação dos dados agronômicos permitirá, em resumo, obter as seguintes informações:

  • Dados de solo: Caracterizar o solo como um reservatório de água e sua capacidade de infiltrar água (sistemas de aspersão) e espaçamento emissores (sistemas localizados);
  • Dados da cultura e do clima: determinação da evapotranspiração da cultura máxima (ETc máxima), essencial para a definição na lâmina de projeto;
  • Dados da água: viabilidade de irrigação e escolha do sistema de irrigação/filtragem;
  • Dados de planialtimétricos: layout e otimização da distribuição do sistema no campo;
  • Outras informações: é preciso analisar caso a caso as possibilidades de limitar o projeto e as necessidades de ajustes no mesmo. Por exemplo, se a energia elétrica for apenas monofásica, terá limitação da potência do motor.

O projeto ou dimensionamento hidráulico refere-se ao dimensionamento das tubulações, dos acessórios e baseia-se na vazão do sistema, na geometria da área e nos critérios técnicos, utilizando-se equações específicas. Nesse sentido, percebe-se que o projeto hidráulico, é uma etapa dependente do projeto agronômico e esta ordem, precisa ser respeitada. Um dos principais dados nesta etapa são os planialtimétricos, pois eles influenciarão na disposição do sistema na área e consequentemente no comprimento das linhas e nas vazões (principal dado para o dimensionamento hidráulico).

Uma etapa que está entre o projeto agronômico e a hidráulico é a alocação dos setores e/ou blocos e linhas (recalque, principal, derivação e lateral) na área irrigada. Etapa que se torna mais fácil com uso de ferramentas, como o AutoCAD (Figura 2), onde é facilitada qualquer alteração. Ao realizar o desenho dos setores, é possível obter informações sobre o comprimento e direção das linhas, assim como a declividade, quais são essenciais para o dimensionamento hidráulico do projeto. É importante que o layout seja organizado e informativo, facilitando a montagem para a equipe de campo.

Uma etapa crucial dentro de um projeto de hidráulico é a escolha da motobomba, que é feita com base em duas informações: vazão (Q) e altura manométrica (Hm). A Q é volume de água (m³) a ser bombeado em determinado período (h). A Hm é a energia que a bomba deverá transmitir ao líquido para transportar a vazão “Q” de um local a outro. Portanto, Hm deve vencer os desníveis geométricos (sucção e recalque) e as perdas de carga (contínua e localizada) e fornecer a pressão de serviço para o emissor Volume de água (m³) a ser bombeado em determinado período (h).

Uma das últimas etapas é a contagem de peças, sendo um processo, na maioria das vezes, odiado por muitos projetistas, pois exige bastante concentração e cuidado para não haver confusão. Um layout bem-feito em CAD facilitará muito esta etapa que é a última do dimensionamento.

A análise econômica é frequentemente a penúltima etapa de um projeto, na qual o demandante realiza cotações em diferentes locais, especialmente quando o projetista atua de forma independente e não comercializa as peças e equipamentos. No entanto, quando o demandante opta por realizar o projeto em uma empresa que também comercializa tais itens, é comum que a própria empresa já realize a cotação.

A penúltima etapa é a entrega técnica. Nesta etapa é onde o projetista deve explicar todos os detalhes e decisões técnicas para o demandante e todo o funcionamento do projeto. Para finalizar, as últimas etapas são a montagem do sistema, onde é importante treinar a equipe de montagem, que precisa ter um bom conhecimento de peças. Ao final, deve-se testar o sistema antes de enterrar as valetas e fechar os finais de linhas.

Considerações finais

O sucesso de um sistema de irrigação depende fundamentalmente da qualidade do projeto. Para isso, é necessário seguir uma série de etapas e critérios técnicos. Infelizmente, devido à falta de acesso a materiais e treinamentos de qualidade, muitos projetistas independentes e empresas de irrigação optam pelo caminho mais fácil, a qual é dimensionar o sistema sem considerar os critérios técnicos.

Esse procedimento resulta em uma série de problemas que podem se tornar não solucionáveis ao longo do tempo. Na hora de realizar um projeto de irrigação, procure sempre um profissional capacitado e exija dele, os detalhes sobre o projeto agronômico e hidráulico.

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